terça-feira, 4 de novembro de 2008

Peripécias da juventude

Estávamos no mês de Dezembro, com os nossos 16 anos e com todas as certezas que a idade nos permitia, mete-mo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas.
O objectivo era somente fazer as compras de Natal. Algum dinheiro cada uma e umas notas estrangeiras, das quais não fazíamos a menor ideia do valor.
Não foi um dia qualquer, foi exactamente numa sexta feira à noite, dirigi-mo-nos a uma caixa de câmbios... primeira nota e saíram muitas notas, ainda em escudos, mais uma nota e parecia que cada vez saiam mais, outra e... ups, aconteceu de novo! Vezes sem conta, tantas quantas as notas que tínhamos.
Completamente incrédulas, mas com uma felicidade óbvia, estávamos prontas para as ditas compras.
Naquela manhã fria de inverno, era ainda escuro, junta-mo-nos para dar partida rumo a Espanha. Duas motitas, três raparigas... decidimos então distribuir-nos assim, eu sozinha na minha mota, e elas duas na outra.
Decidi ir eu na frente, de modo a não dar avanço, mal eu sonhava...
Depois de apenas cerca de 7 ou 8 km's, a minha mota decidiu, como que por vontade própria,parar, simplesmente parar! Não tive reacção inicialmente para buzinar, tentei acelerar, ver no que dava. Mas ela parou mesmo, e já as outras iam bastante à frente. Disto é que eu não estava mesmo à espera....
Telemóveis??? Não, nada disso, ainda não estávamos nessa geração...
Na berma duma nacional, sozinha, ainda noite, com um frio característico de Dezembro.. ali estava eu, somente confiante que iam dar pela minha falta, nem que fosse pelo facto das malas todas e com o respectivo dinheiro, estarem comigo, guardadas na minha mota.
Pensei... pelo menos para Espanha não vão, não têm documentos, não têm dinheiro...restava-me esperar, somente!
Esperei bastante tempo, não posso precisar, pois para ajudar, não tinha relógio, mas acabou mesmo por amanhecer, o sol subiu e nada delas...
Entretanto, uns bons quilómetros mais à frente, e por causa do frio, decidiram parar. Foi quando se aperceberam que estavam sozinhas, ou melhor, que eu não estava! Esperaram, choraram, até que decidiram voltar para trás. Pararam em todos os cafés abertos por que passaram, a perguntar se tinham visto uma rapariga assim e assado... nada, ninguém tinha visto nada!
Muito tempo depois, já lavadas em lágrimas e convencidas que me iam encontrar numa valeta qualquer, lá estava eu, sentada em cima da mota, à espera!
Como até aí a aventura tinha sido pouca, lá decidimos ligar para um táxi e ir mesmo de táxi. As motas ficaram encostadas num qualquer sitio daquela estrada nacional, e lá fomos nós.
Compramos tudo o que nos apeteceu, uma manhã de verdadeira festa, até nos esquecemos da parte inicial da aventura, até que decidimos parar, já tínhamos fome e pensamos ir comer, tomar o pequeno almoço.
Pedimos o que nos apeteceu, comemos, bebemos.... Até que uma delas me pergunta pelo dinheiro, pensando que eu, como sempre a mais responsável, tinha guardado algum de reserva.
respondi que não tinha já nada comigo, afinal não era meu, e assim que o distribui quando chegamos a Espanha, entreguei tudo!
Agora sim, só nos faltava esta... não tínhamos dinheiro para pagar o pequeno almoço, quanto mais para voltar para casa, estava ali uma coisa esperta!
Havia uma senhora numa máquina de jogos, e nós a ver que de vez em quando lá caiam umas moedinhas... mas nós, nenhuma fazia ideia do que fazer com aquela máquina, mas no nosso "Espanholês", e com as poucas pesetas que nos restavam, decidimos entregar à dita senhora para que ela apostasse o nosso pouco dinheiro.
Por incrível que pareça, a sorte foi tanta, que conseguimos pagar o pequeno almoço e ainda voltar de táxi para casa, tal não foi o que a senhora ganhou!
Escusado será dizer que o facto da mota ter ficado avariada exactamente na direcção contrária àquela em que era susposto ter-mo-nos dirigido naquela manhã, fez com que tivessemos, logo naquela dia, ter de contar parte da aventura... levamos nas orelhas, claro está, mas felizmente correu tudo bem, dentro dos dissabores...

Ainda hoje falamos nesta aventura, e todas elas dizem que ninguém acredita quando a contam, mas só mesmo nós as três sabemos bem o que foi aquela manhã de Dezembro...

9 comentários:

Teresa disse...

Umas verdadeiras teenagers inconscientes, é o k é!! Então não vos passou pela cabecinha deixar uma peseta sequer?? Isso é k deve ter sido gastar!! lloooollllooolll

Estou de Dieta disse...

E tu conheces bem as minhas companheiras de aventura... uma delas era tua vizinha :) lol

Teresa disse...

A sério??? Kem seriam???

Estou de Dieta disse...

lollll
Só digo em privado :)

Teresa disse...

Ok, deve ser boa...

Rony disse...

Bem, parece uma aventura surreal, mas aconteceu mesmo, não é?!

Deve ter sido cá uma aventura... daquelas para acabar imortalizada num conto ;)

Carla disse...

Ainda bem que já tens carro e telemóvel :-)

Ainda me lembro das idas a Espanha onde se encontravam coisas fantásticas (pelo menos eu achava que sim...) e que cá ainda não se viam.

Ai as saudades dos caramelos com pinhões e das gomas de framboesa...

Eu também ia a Espanha mas não ia de mota, mas também não me aconteceram coisas assim divertidas!!

Estou de Dieta disse...

Ah pois, mas eu não fui comprar gomas nem pinhões amiga...
Foi mais Levi's e Segas.... lolll

Carla disse...

Pois, pois, capitalistas!