quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Chegou-me a inspiração...pisa pá!!

Aqui vai um poemazito para animar a malta; não, não é Camões, mas sim António Gedeão, numa versão moderna da Leonor desse poeta zarolho, coitadinho...

Poema da Auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina,
de impaciente nervura.
como guache lustroso,
amarelo de idantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta:
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa e bem segura.

Com um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta,
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe Leonor
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa, de lambreta.

2 comentários:

Rony disse...

Adoro António Gedeão. Temos o mesmo gosto em muitas coisas e este poeta é uma delas.
Lembras-te quando iamos passear na praia e ler os seus poemas?
Outros tempos, ainda andavamos de lambreta nessa altura...

Teresa disse...

Correcção, andávamos de mula e de beast of burden, chama lá as coisas pelos nomes, sff!!! E qd eu cantava beast of burden a sair de dentro de água?? Eu e a bette midller temos uma voz idêntica, afinadinha e tal...