segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Véu Pintado

" Por vezes, a maior viagem é a distância entre duas pessoas."

Este era daqueles filmes que há muito queria ver, e, finalmente, deste fds não passou. Após ter visto há pouco tempo o também fantástico "América Proibida" em que o Edward Norton tem uma interpretação soberba, lembrei-me que ainda não tinha visto este "O Véu Pintado".

Adorei o filme e fiquei com uma imensa vontade de ler este ou algum livro do escritor Somerset Maugham. Retirei esta crítica ao livro do blog HÁ SEMPRE UM LIVRO...à nossa espera! , vão ver que também vão ficar com vontade de ler o livro.

Friday, February 25, 2005

"O Véu Pintado" de Somerset Maugham (ASA)
"...esse véu pintado a que os que vivem chamam vida..."

Este é o mote no qual Maugham se baseia para desenvolver um romance que fala da construção da personalidade que é esculpida, moldada pelas situações que se nos apresentam ao longo das nossas vidas.

Afinal a Vida é pintada ou construída com as cores do ambiente social que nos rodeia e também de acordo com as expectativas das pessoas com as quais temos de interagir.

Esta é, sobretudo, uma trama que exibe o talento do autor, patente no carácter de personagens cheias de contradições, capazes de atitudes extremas, revelando um profundo conhecimento da alma humana aliado a uma excepcional capacidade de observação.

Já no prefácio, o autor confessa ter-se inspirado numa passagem do Purgatório de Dante, cuja heroína, Pia, é levada pelo marido, que suspeita que esta lhe é infiel, para um local remoto, impregnado de vapores sulfurosos, na esperança que estes condicionalismos lhe proporcionem uma morte lenta e discreta, pois teme o poder da sua família.

A vingança perfeita. Mas as coisas não correm exactamente conforme havia previsto... Katherine ou Kitty, a heroína do romance de Maugham, é uma jovem beldade, oriunda da classe média\alta britânica - um meio social onde impera a frivolidade -extremamente fútil e que, instigada pela mãe e pelas restantes figuras femininas do seu círculo (restrito) de amizades, procura um casamento através do qual possa ascender socialmente. Trata-se de uma personagem que vai sendo modelada à medida que se desenvolve a trama.

Esta é, sobretudo, a história da humanização de Kitty e da sua caminhada em direcção à autonomia em todas as suas dimensões: sentimental, económica e social.

Walter e Charlie são personagens que fascinam pela sua complexidade ou, se quisermos, pela sua dualidade. Walter, o marido de Kitty, de aparência agradável mas discreta, é um homem extremamente inteligente e detentor de uma enorme capacidade de amar. Mas, tal como o marido de Pia, é também capaz de odiar muito para além dos limites da sanidade mental.

Charlie, o amante de Kitty, é um homem belo e fascinante, possuidor do charme mundano de quem se move dentro dos círculos diplomáticos como um peixe na água e, principalmente, detentor de um enorme poder de sedução. O lado negativo de Charlie manifesta-se na sua frivolidade (que inicialmente o aproxima de Kitty, imersa num casamento onde proliferam a falta de afinidades e as dificuldades de comunicação), no excessivo apego às convenções, nalguma cobardia e dissimulação q.b.

Waddington, amigo de Walter e Kitty, será como que a consciência da nossa heroína no inferno de uma cidade cuja população está a ser dizimada pela cólera. Estamos perante uma personagem importantíssima que nos fala da presença britânica na China e da necessidade de ultrapassagem dos preconceitos de ordem social e cultural, apesar do aparente desdém em relação à sua amada descendente da nobreza manchu.

Em Kitty, esse desdém é impregnado de uma forte dose de etnocentrismo\xenófobo que será, também, ultrapassado pelo convívio com as crianças do orfanato oriundas de famílias vítimas da cólera.

Uma obra ímpar deste autor britânico, falecido em Nice em 1965, povoada de personagens de grande densidade psicológica, cheias de conflitos emocionais.

Que transmite uma mensagem de tolerância e equidade, para aqueles que ousam pintar o véu da vida com cores diferentes daquelas que são aceites por uma maioria, muitas vezes, pouco esclarecida.

Um fortíssimo enredo passional, cujos ingredientes envolvem, amor, ódio, traição e morte.

Mas também uma história de crescimento interior e lucidez e um elogio à tolerância e à solidariedade.

Cláudia de Sousa Dias

5 comentários:

Teresa disse...

Temos cá em casa o "América Proibida", mas não me inspira nada de nada... talvez o veja, talvez não, não gosto nada de Edward Norton!!! Mas ontem vi o "Awake" e ADOREI!!!!!!!!!!

Ianita disse...

Já tínhamos falado a respeito deste filme... O Edward Norton é dos meus actores preferidos da nova geração. Comecei a reparar nele no Fight Club e depois no América Proibida. Um filme brutalmente violento e verdadeiro. É impossível ficar indiferente. Ainda me arrepia a forma como ele mata aquele "afro-descendente"... E como uma mente frágil pode ser tão facilmente influenciável.
O véu pintado comprei-o no circuito alternativo há coisa de um ano. Não sabia nada do filme, mas tinha o Edward Norton na capa... :) Achei fabuloso. O meu amigo Luis (um daqueles intelectuais que acham imensa piada ao Mulholand Drive (?!)) não gostou. Mas quem goste de olhar para dentro de si, de questionar o que o rodeia, deve experimentar deixar emocionar-se por este véu pintado. Lindo!

Rony disse...

Tenho de ver o "Awake". Olha que o "América Proibida" é muito bom, mas tens de estar disposta a ver um filme realista e violento.

Ianita disse...

O awake já tenho em formato alternativo... pra semana envio-to.

GG disse...

Se gostam de Edward Norton vejam 25th hour .
Grande actor.